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LUTO

Morre o jornalista João Lamarque de Almeida aos 86 anos

Não se faz mais Lamarques no mundo
Por: LÊ NOTÍCIAS
03/02/2023 10:42
Arquivo/Lê NOTÍCIAS João Lamarque de Almeida deixou um imenso legado na comunicação do RS e SC João Lamarque de Almeida deixou um imenso legado na comunicação do RS e SC

Por Marcos Schettini

A ida definitiva de João Lamarque de Almeida, na manhã desta sexta-feira (03), não foi o maior baque. Devido às medidas, estava-se já preparado. O que ele leva, e talvez quem ficou siga, são seus ensinamentos, conhecimento de história, ler toda a obra de Machado de Assis, contar os enredos e rir.

Leu até que pode, pesquisou sempre. “Li, Vi e Ouvi”, a marca da sua coluna, tratava de tudo, inclusive. Sabia as capitais dos países do mundo, emancipou quase uma centena de municípios no RS e SC, conhecia histórias de cada localidade, sobrenomes, lideranças as quais convivera.

Com sua serenidade, saía mundo afora e voltava rindo porque sua busca foi produtiva. Para pegar um dinheiro qualquer, escondia para ninguém ver. Sempre cordial, dando presentes a todos, do menor ao maior da família a qual sempre amou.

Teve desilusões, mas quem não tem? Teve tropeços, mas quem não caiu? Sempre foi positivo em tudo, pagando em dia os compromissos da vida que, com um copo de chopp ou cerveja, uma taça de vinho, brindando tudo e todos.

Viveu os amores, deles todos, um em inexplicável situação porque, quando foi sogro, também foi pai. Estas situações que a vida impõe e, como ninguém é de ferro ou santo, a todos engole. A vida é isso.

É fazer um jornal com tipografia, é gostar de política transparente, é escrever, raciocinar, fazer o que se gosta. É viajar, abraçar amigos, disputar uma eleição, escrever um livro entre outros. Passo firme, objetivo certo.

Assim, do nada, vai sinalizando a ida. A vida misteriosa, sem ninguém saber de onde se vem ou vai, faz todos terem o prazer iluminado de ser a melhor pessoa entre outras.

Ser bom, sincero, amigo, presente, permanente. Fazer o Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo de modo atrapalhado, mas na melhor demonstração de fé. Fez isso há três dias. Ao meu lado, comigo, na melhor amizade.

A mesma que, ao viajar em várias cidades, sempre foi contribuinte para o tamanho de sua possibilidade. Aquela que, no diesel ou gasolina, no álcool ou na bebida, sempre ofereceu. Ria dos números da Lotofácil, Quina e Mega. Parceiro na ida para fazer a fezinha e para corrigir.

Foi se encontrar com todos os heróis do mundo, historiadores que leu, líderes que vibrou, pessoas que conviveu. Leva uma falta e deixa muita saudade. Um ser humano incrível e de grande valor. Um amigo presente até a eternidade.


João Lamarque, à direita, nos anos 80 durante suas reportagens pelo interior do Rio Grande do Sul (Foto: Acervo)

TRAJETÓRIA

Nasceu em 18 de novembro de 1936, em Giruá (RS), o jornalista gaúcho João Lamarque de Almeida, um cidadão com imensuráveis histórias para contar, como na época que participou da emancipação de dezenas de municípios no Noroeste do Rio Grande do Sul e Oeste de Santa Catarina.

Em entrevista ao Lê NOTÍCIAS em 2020, Lamarque contou sua história de vida, lembrando dos momentos de infância quando ajudou seus pais no corte de erva-mate, em meados de 1945, na região de Giruá. Ainda jovem, já com comportamentos de comunicador, ingressou no Exército Brasileiro em Santo Ângelo (RS). “No Exército, minha atividade era de fiscalização administrativa, registrando o que entrava e saía do regimento e, ainda, organizávamos as correspondências para as partes dos regimentos, secretarias, oficinas mecânicas e esquadrões. Fui cabo entre dois e três anos”, relembra.

No início da década de 60, João Lamarque mergulhou suas atividades no Jornalismo e iniciou publicação de revistas, conciliando com os trabalhos na rádio Santo Ângelo, onde era locutor. Entre 1961 e 1963, transmitia programas de notícias aos Sete Povos das Missões e aos giruaenses. Em 1964, editou a Revista Cara, já acompanhando as movimentações dos pequenos municípios nas campanhas por emancipações, momento este em que o Rio Grande do Sul possuía expressivas lideranças políticas.

À época em que iniciou a carreira como jornalista, ele relatou sobre uma rotina de trabalho sem as facilidades que a tecnologia proporciona hodiernamente. “Para a produção das reportagens, eu ia até a pessoa entrevistada, nunca fazendo por telefone e, dessa forma, a gente se aproximava da pessoa e da comunidade. Havia apenas o telefone fixo, não tinha celular. Nós tínhamos também convivência com lideranças políticas, com prefeituras e governadores, onde procurávamos movimentar suas campanhas”, contou na entrevista concedida em 2020.

Tanto do Noroeste do Rio Grande do Sul, quanto do Oeste de SC, reivindicavam uma comissão dos impostos recolhidos pela União para também poderem crescer. “Eu me recordo que, por meio de votações, esses municípios conseguiram as emancipações. Por exemplo, de Santo Ângelo, desmembrou-se Independência, Chiapetta, São José do Inhacorá, todos na década de 1970”, relata.

Em 1967, João Lamarque se mudou para Iraí (RS), casou-se e teve cinco filhos. Mais tarde, residiu em Frederico Westphalen e criou o Jornal A Voz do Povo, por meio do qual incentivou a movimentação em defesa do municipalismo, dedicando-se à emancipação de inúmeras cidades. Segundo Lamarque, isso se concretizou também na região de Santa Maria, em Júlio de Castilhos e Palmeira das Missões. “Nestas regiões emanciparam cerca de 30 municípios”.

O jornalista ainda explicou, à época, que participou dos processos de desenvolvimento de cidades do Noroeste do Rio Grande do Sul. “Ajudamos no crescimento de Frederico Westphalen, por exemplo, no qual eu conheci o primeiro prefeito. Ela é uma das cidades de maior progresso no Noroeste do Rio Grande do Sul. Lá, há três faculdades e uma catedral de mais de 100 anos. Quando Frederico Westphalen tinha cerca de 20 anos, foi instalada a primeira Diocese, graças à liderança marcante do senhor Vitor Batistella, fundador de uma rádio, escritor e pesquisador, uma pessoa com grande nível intelectual”, contou Lamarque, com carinho pela região na qual criou seus filhos.

Nos anos 90, foi morar em Chapecó, desta vez trabalhando pelo desmembramento de quase 30 municípios do Oeste catarinense, como São Miguel do Oeste, Palmitos, Cunha Porã, Maravilha, Itapiranga e Mondaí. “Essas cidades possuíam comunidades distantes da sede e, com essas emancipações, facilitou-se a locomoção dos transportes, tudo isso ajudando a desenvolver esses municípios, com a produção agropecuária mecanizada e familiar”, contou.

Em 2010, escreveu o livro “Galeria Cívica Rio-grandense”, que contém mais de 120 biografias de personalidades políticas, nascidas entre 1600 a 1950. A obra mostra sobre a presença gaúcha na política nacional e sobre fatos históricos, como a Revolução Farroupilha (1835-1845) e as gestões dos governadores Antônio Augusto Borges de Medeiros e Getúlio Vargas.

João Lamarque de Almeida faleceu na manhã desta sexta-feira (03), aos 86 anos, em São José (SC). Deixou cinco filhos, 11 netos e sete bisnetos. Por mais de oito anos, até seus últimos dias de vida, escreveu uma coluna semanal no Lê NOTÍCIAS, intitulada “Li, Vi e Ouvi”.


João Lamarque de Almeida ao lado dos cinco filhos no final dos anos 80 (Foto: Acervo)

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