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Artigo | Educação a Distância no Brasil: Democratização ou Precarização do Ensino?

Por: LÊ NOTÍCIAS
24/12/2024 09:15
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Por Claudio Jacoski*

A Educação a Distância (EaD) tem sido celebrada pelo acesso ao ensino, democratizando oportunidades e alcançando milhões de brasileiros. No entanto, por trás dessa expansão exponencial, oculta-se uma realidade preocupante: a busca por escalabilidade e redução de custos por algumas Instituições, têm por vezes comprometido a qualidade do ensino ofertado. Metas (e não um plano de expansão) do Plano Nacional de Educação, pouco têm contribuído para organizar o setor, que anda ao sabor do mercado.

Matrículas em cursos de EaD no Brasil já ultrapassam o ensino presencial. Para ter ideia, no Censo de 2023 os ingressantes em EaD superaram 66% dos estudantes brasileiros, ou seja: o país escolheu esta modalidade em detrimento do ensino presencial. Tal crescimento levanta questões a serem discutidas, pois precisamos nos perguntar se vale crescer com um modelo que prioriza quantidade em detrimento da qualidade. Com turmas numerosas e abordagem padronizada, a personalização do ensino e o acompanhamento individual acabam sendo prejudicados, minimizando resultados do processo de ensino-aprendizagem.

Contudo, a solução não está em rejeitar a tecnologia, pois, com avanços da inteligência artificial, abre-se um leque de oportunidades para personalizar o ensino, oferecendo um acompanhamento mais próximo e adequado às necessidades individuais de cada aluno. Assim, a tecnologia deixa de ser um fim em si mesma e passa a ser uma ferramenta poderosa para apoiar a presencialidade, contribuindo para aprendizado ainda mais engajado, personalizado e efetivo.

O modelo de EaD desenfreado no Brasil é único e não encontra respaldo em outros países. Há nações onde o ensino a distância é complementar ao presencial, com forte investimento em tecnologia e qualidade de conteúdo. No Brasil, o EaD tem foco principal em redução de custos e aumento de escala.

A formação de professores no país, especialmente nos cursos de Pedagogia, que representam o maior número de matrículas em todo território nacional, enfrenta um grande desafio. Futuros docentes podem nunca terem entrado em uma sala de aula durante sua formação, comprometendo seriamente sua preparação para a prática educativa. É fundamental trazer esses professores para a sala de aula desde o início de sua formação, discutindo urgentemente a implementação de uma Residência Pedagógica, prática similar ao que ocorre em outros cursos, como por exemplo, Medicina. Sem esse movimento, corremos risco de criar um vácuo – se já não existe – em disciplinas essenciais para o desenvolvimento do país, como Linguagens e Matemática.

A questão não se restringe apenas à formação de professores. Em áreas técnicas, como a Engenharia, a situação pode se tornar ainda mais grave. A lacuna na formação prática pode resultar em graves consequências, como aumento de sinistros em edificações e consequente risco de colapso de prédios, o que já tem resultado em tragédias com perda de vidas, com irreparável custo humano e social.

Imperativo abrir discussão de uma prova para acesso ao todos os sistemas profissionais. Quem sabe utilizando a nota do ENADE, que pouco tem contribuído para acompanhar e comprovar a qualidade de cursos, pelo atual "modus operandi".

Para avançar na educação do país uma reforma estruturante se faz necessária. Investir na formação continuada de educadores e incorporação responsável de tecnologias inovadoras é fundamental para garantir acesso e geração do conhecimento, sem abrir mão da tecnologia e manutenção constante da excelência.

*Reitor da Unochapecó e presidente da Associação Brasileira das Instituições Comunitárias de Educação Superior (ABRUC)


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