Por Jamil Garcia*
Há quem diga que casamento deve acontecer em salões suntuosos, com lustres imponentes, mesas impecavelmente postas e etiquetas rigidamente seguidas. Mas a vida, essa grande mestra da leveza, ensina que felicidade não se mede pelo brilho das taças, mas pelo riso solto, pelo abraço sem pressa, pelo brinde sincero. E que melhor palco para celebrar o amor do que um botequim?
O botequim é um templo da simplicidade, onde a igualdade impera e a democracia se faz soberana. Ali, o operário brinda ao lado do empresário, o poeta troca versos com o boêmio, e o doutor aprende tanto quanto ensina. Não há distinção entre o mais letrado dos intelectuais e o mais humilde dos frequentadores. Todos compartilham o mesmo espaço, a mesma mesa, o mesmo calor humano. É um lugar onde se joga conversa fora ou se discorre sobre os mais elevados temas acadêmicos, onde a cultura popular se mistura ao saber erudito, e onde, entre um gole e outro, nascem crônicas, versos e até canções eternas, como tantas que ganharam vida ali, embaladas pelo tilintar dos copos.
Mas, sobretudo, o botequim é um espaço onde as diferenças não apenas coexistem—elas são respeitadas e até fomentadas. É ali que se travam debates acalorados, sem que ninguém precise levantar a voz. Onde ideias opostas se cruzam sem jamais se anularem. No botequim, cada argumento tem seu lugar, cada visão de mundo encontra ouvidos atentos, e divergências não afastam, pelo contrário, enriquecem. Porque ali a palavra circula livre, e mais importante do que convencer é compartilhar, mais valioso do que ter razão é brindar à diversidade do pensamento humano.
E assim, nesse ambiente despretensioso, um casamento se desenrola com a verdade estampada nos sorrisos. Sem protocolos rígidos, sem exigências desnecessárias—apenas afeto em estado puro. Os convidados se misturam sem barreiras, a música surge espontânea, e o cardápio traz a mais autêntica experiência gastronômica, com aquele tempero peculiar que só a “comidinha de boteco” tem.
No botequim, todos se sentem à vontade para trajar, falar, beber e comer o que mais lhes agrada, sem padrões ou etiquetas previamente impostos. É um espaço de congraçamento, onde a celebração do amor se dá sem artificialidades, mas com a verdade de quem sabe que a felicidade não depende de formalidades, e sim da companhia certa, do ambiente acolhedor e da liberdade de ser quem se é.
E assim, entre petiscos bem temperados e brindes que vêm do coração, o amor é celebrado do jeito que deve ser: leve, livre, autêntico. Pois se a vida merece ser vivida sem amarras, o amor, esse sentimento que nos dá asas, merece ser celebrado em um lugar onde todos se sentem em casa.
E onde mais se sentiria tão em casa quanto em um botequim?
Por fim, penso eu, numa vã divagação, será que os ilustres renascentistas não estariam a debelar em seus túmulos após não muito paroquiais ideias?
*Bacharel em Direito pela Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina. Oficial de Gabinete da 1ª Vice-presidência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Especialista em Direito Civil pela Universidade Anhanguera. Especialista em Administração Pública e Gerência de Cidades pela Faculdade de Tecnologia Internacional – FATEC. Especialista em Gestão e Legislação Tributária pela Faculdade de Tecnologia Internacional – FATEC. Especialista em Ciência Política pela Universidade Candido Mendes – UCAM. Autor de tantos outros artigos para revistas científicas e periódicos do cotidiano
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