O sonho de um grupo motivado a germinar sentimentos bons no peito de crianças e adolescentes de Xaxim ganha, ao passar dos dias, cada vez mais traços de realidade. Os 18 integrantes da diretoria da ONG Salva acreditam que com a educação, diálogo e afeto é possível escrever histórias de sucesso – não somente profissional, mas pessoal, através de uma nova geração que crescerá mais humana, confiante, motivada e ciente de suas responsabilidades sociais. A sede própria, no antigo Complexo Botafogo, que foi cedida pelo Poder Público municipal no ano passado, se transforma a cada mutirão, onde direção e voluntários dedicam-se aos fins de semana a transformar o antigo campo de futebol abandonado em um local agradável e adequado para realizar encontros, oficinas e aulas.
Instituída há quatro anos, a Salva ganha mais solidez ao contar com um espaço especialmente preparado para suas necessidades. Por isso, mesmo com alguns ajustes ainda a serem feitos no local, que fica no bairro Flor, alguns dos projetos já começam a ganhar vida. É o caso da Oficina de Grafite, que aconteceu no último fim de semana e foi coordenada pelo professor Rodrigo Cardoso dos Santos. “Digo”, como é conhecido o professor chapecoense, contou com outros quatro artistas - João Vejam, Ricardo Bernardo, Ewerton Lopes Toy e Leonardo Mattos Silveira, esses de Florianópolis e Criciúma, para orientar os participantes e dar graça ao setor administrativo, onde também fica a cozinha e banheiros. Além deles, alunos da Oficina, como foi o caso do Dowglimar Wuicik da Silva e do Fernando da Silva, da 8ª série do E.E.B Gomes Carneiro, também contribuíram com o grafite.
Ricardo Bernardo destacou que teve “o prazer de participar das intervenções realizadas na ONG Salva em Xaxim. O projeto é lindo e transforma a vida de dezenas de crianças e adolescentes através da arte. E isso tudo só é possível porque ainda existem pessoas dispostas a fazer o bem e que acreditam em ações como essa. A palavra mais ouvida durante esse projeto foi ‘gratidão’. Eu sou grato por essa oportunidade”. Ricardo e os outros artistas participaram da aula teórica e depois tiveram a liberdade de criar as imagens de acordo com seus gostos e visões do que ficaria “a cara do lugar”.
Nas paredes, o rosto de Nelson Mandela, que foi presidente da África do Sul; principal representante do movimento Antiapartheid; e vencedor do Prêmio Nobel da Paz. Também, rostos de crianças e uma imagem em homenagem à madrinha da Salva e presidente da Apae de Xaxim, Maris Stella Simonatto. “Choveu muito, mas ninguém reclamou da chuva. Eles grafitaram no sábado à tarde, porque de manhã tinha muita chuva, e no domingo finalizaram”, explica o fundador da Salva, Tiago Gheno (Xenna). Para aproveitar a estadia dos artistas, a carcaça de um ônibus, recebida para transformar em sala de aula, chegou à sede na semana passada e foi grafitada durante a Oficina.
Para bancar o deslocamento, alimentação e estadia dos artistas, a direção da Salva arrecadou doações. Os artistas não cobraram pelo trabalho, assim o único gasto foi com as tintas e preparo do fundo, um total de R$ 1.516. O dinheiro é fruto dos R$ 10 mil recebidos pela organização através do Fundo para Infância e Adolescência (FIA). “O montante nos ajudará a colocar em prática etapas das atividades que não se custeiam somente com o voluntariado. Nós queremos ressaltar a disposição dos promotores de Justiça de Xaxim, Simão Baran Junior e Diego Barbiero, que muito trabalham para que nossa iniciativa ajude a transformar vidas”, expôs Xenna. Com os outros quase R$ 8.500, a Salva planeja comprar e instalar a estrutura do palco, a exemplo das caixas de som, mesa, microfones, cabos, tripés, pedestais e projetor etc., para exibir filmes, peças de teatro, shows e realizar palestras para a comunidade.
CULTIVANDO AMOR
A Oficina de Grafite foi a primeira realizada na sede, mas estão previstas oficinas de gaita de boca, talento, astrologia, yoga, raciocínio, artesanato, fotografia, artes marciais, guitarra, violão, contrabaixo, maracatu, desenho, teatro, bio-construção e astrologia. Também, aulas de diferentes áreas ocorrerão no terreno. A primeira, que aconteceu na última terça-feira (23), em dois períodos do dia, foi de cultivo do solo. Pela manhã, os alunos da E.B.M Cecília Meireles, Erick Pagani, morador do bairro Primavera, e Suelen Festinalli, moradora do bairro Chagas, cultivaram a terra. À tarde, as alunas da E.B.M Santa Terezinha, que são primas e moradoras do bairro, Maiara Soares, Vitória Soares e Samanta Soares também preparam a horta, que recebeu o nome de Esperança.
As três meninas, que conheceram a Salva através de intervenções feitas no colégio que estudam, estavam visivelmente encantadas com a aula, que ocorrerá uma vez por semana durante um mês. Elas, que agora fazem parte da ONG, são da turma “Gota de Orvalho”, enquanto que os alunos da manhã integram a turma “Amanhecer”. Mais alunos fazem parte das turmas, mas Xenna acredita que o frio tenha espantado um pouco os alunos, que deverão ir até a sede com o passar dos dias. “Eles plantaram cenoura e abobrinha, mas mais do que isso, ele cultivaram o amor, as boas energias, o bem. Aprenderam, através de analogias com a o coração, que é preciso preparar o solo, plantar a semente e cuidar do crescimento de tudo o que é positivo”. Maiara, de 14 anos, que participou das quase duas horas de aula, destacou a importância do projeto. “Aqui a gente aprende o quanto é importante semear coisas boas e a responsabilidade em nossas atitudes”.
Xenna salienta que para avaliar a qualidade e a relevância dos planos de aula, as atividades passarão pela análise de psicólogos e pedagogos, que apontaram caminhos para que o grupo possa seguir e obter bons resultados. Também, o membro da diretoria convida a comunidade a participar dos próximos mutirões, onde o ônibus será reformado, será feita a limpeza do local e a construção da pista de skate, entre outras ações, que ainda não possui data definida, mas que serão divulgados através da fanpage da Salva, no Facebook.
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