Há pouco, uma pessoa muito especial a mim, me escreveu: “Fantasmas são bem mais reais do que parecem... podem ser transformados em lembranças que nos acompanham, fantasmas que nos assombram, trazem dúvidas e caminham conosco por toda a vida...”
Sim, é verdadeira a afirmação.
Não existe “fantasminha camarada que só quer com as crianças conversar”. Com relação a mim, não costumo ouvir correntes sendo arrastadas pelos corredores durante a madrugada. Também não visualizo figuras branquelas e transparentes dizendo-me “Olá” ou pedindo para ser meu amigo. Meus fantasmas estão nas minhas vísceras e no músculo do coração.
Meu corpo reage às minhas memórias. E faço um esforço tremendo para guardar apenas as melhores. Ainda que me perguntassem a razão de agir assim e eu não soubesse responder, diria que ainda há muito amor guardado em mim. Posso até morrer amanhã, mas meus corações não morrem, jamais vão morrer.
Tudo o que vivi ficará numa colorida bolha que explodirá um dia, derramando amores, sonhos, desencantos e, talvez, alguma poesia ou um poema incerto, como aqueles que são escritos sem dedicatória, apenas pelo prazer de colocar no papel palavras que de algum modo possam servir a alguém, a algum enamorado.
Lembro-me agora de um livro de Francesco Alberoni que li há muitos anos. O título é “Enamoramento e Amor”. Nesta obra, o autor concentra sua atenção ao momento que antecede a construção de um universo amoroso. Ele afirma que a sedução nos leva ao movimento de romper laços familiares e profissionais, e nos motiva a abandonar cidades, empregos e outras estabilidades, causando revoluções internas e externas.
Embora a instabilidade emocional seja comumente atribuída ao universo feminino, é inegável que fantasmas também agem sobre os pensamentos masculinos. Não foi à toa que Vinícius escreveu, em seu poema O Dia da Criação: “Impossível fugir a essa dura realidade. // Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios”. A diferença é que a lágrima masculina demora mais para cair, mas quando cai é dura e dolorida como pedra no rim.
Conviver com fantasmas é coisa difícil no dia a dia. Talvez seja questão de se tratar em terapia. E se há algo que me causa espanto é o fato de qualquer envolvimento afetivo ter como anexo um fantasminha, uma pequena carga de dúvida, pois mesmo o amor mais puro se torna mais saboroso por suas incertezas.
Porém, acredite, querida, não serei um fantasma, mas eu sei que vou te amar por toda a minha vida.
P.S. Obrigado, Vinicius de Moraes
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