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Arte & manhas | Nós e as circunstâncias que nos acompanham

Por: Luís Bogo
03/05/2024 09:16 - Atualizado em 03/05/2024 09:17
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Pinterest Biblioteca não serve apenas para acumular poeira e traças. Deve ser consultada sempre
Biblioteca não serve apenas para acumular poeira e traças. Deve ser consultada sempre

Desde criança eu sonhava em ser escritor. Meu bom e falecido pai era professor de Português e cedo incentivou a prática da leitura a mim e aos meus irmãos. Eu, o Paulo e o Marcos dividíamos um quarto imenso, onde havia uma estante repleta de coleções. Além dos livros que ele próprio adquiria, chegavam outros por iniciativa das editoras que enviavam novos livros para o nosso endereço, a fim de que ele os adotasse nas aulas. Acaso engano, foram onze edições desta publicação específica, que me incentivaram ainda mais a me apaixonar pela literatura.

Por meio destas edições, comecei a conhecer autores como Rubem Braga, Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade e Paulo Mendes Campos, entre outros. Na mesma estante também habitava a obra completa (até então) de Jorge Amado, a quem minha mãe impunha certas restrições por considerar algumas passagens "obscenas". Eu não dava a mínima para o que ela dizia e ia lendo tudo o que aparecia à minha frente, desde as histórias do Sítio do Pica-pau Amarelo até a Montanha Mágica, de Thomas Mann; e o Vermelho e o Negro, de Stendhal. Outro livro que me impactou na adolescência foi Germinal, de Émile Zola, pois na época eu começava a me envolver com o movimento estudantil e percebi uma faísca revolucionária naquele texto escrito cerca de duzentos anos antes da ditadura que imperava no Brasil na época.

Assim, eu ainda menino começava a viajar por este universo compreendido entre os espaços de duas ou três linhas de texto, talvez menos ainda: começava a calcular o significado do vazio que ligava uma palavra a outra e o que a conjunção entre elas fazia com que modificassem seus significados originais, que as fizessem mais significantes e importantes dentro de um contexto maior. Foi então que percebi, definitivamente, que aquilo que eu lia não era apenas texto, era Arte.

Esta percepção fez com que eu alterasse também a minha perspectiva de vida. Não por vaidade, mas pela convicção de que eu teria boas reflexões para compartilhar, talvez não no mesmo nível dos clássicos, porém com a melhor intenção; ou seja propiciar elementos e fundamentos, através da prosa ou da poesia, para que cada leitor pudesse avaliar, de modo pessoal, os acontecimentos ou desacontecimentos do mundo.

O menino é o pai do homem, alguém disse certa vez e nem me lembro quem foi, mas a frase escancara aquele meu momento de descoberta. Eu era quase um menino, ainda, mas almejava transformar-me em homem-escritor. Tentar transmitir ao mundo o que nem mesmo eu ainda sabia, mas tinha ânsia de aprender para repartir. Por isso lia cada vez mais, desde as manchetes de jornais até as bulas de novalgina ou das pílulas do Dr. Ross, que a Nona Paula pedia para comprar quando ia a São Paulo.

O principal, porém, é que esta minha tendência e dedicação às letras me remete a uma frase do filósofo espanhol José Ortega y Gasset, que diz: "Eu sou eu e minha circunstância, e se não a salvo a ela, não me salvo a mim". A relação do sujeito com a circunstância implica na aceitação de que há uma individualidade distante do que existe em seu entorno, porém inseparável dele.

Em síntese, ninguém pode se imaginar uma ilha.

Continuando, "salvar a própria circunstância" leva à motivação de transformar o ambiente onde se vive através de alguma ação. A omissão e a passividade podem nos levar a um marasmo aterrador.

Para concluir, creio que as afirmações do filósofo podem ser aplicadas não apenas ao que se refere à arte, mas é algo para ser pensado a cada passo, a cada gesto, a cada abraço, aperto de mão ou sorriso.


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