Estima-se que atualmente a população brasileira esteja em torno de 203 ou 204 milhões de habitantes. Cerca de 6% desta gente toda (eu escrevi "gente"; ou seja, seres vivos, humanos, indivíduos) vivem no estado do Rio Grande do Sul, agora afetado por uma catástrofe inigualável em toda a sua história.
Certamente são poucos os brasileiros que ainda não tomaram conhecimento desta tragédia, que ainda está longe de terminar. Alguns porque talvez ainda não tenham acesso a veículos de comunicação, o que seria bem difícil de se constatar atualmente. Outros porque talvez não tenham qualquer sentimento de empatia, que não conseguem ou mesmo não admitem se colocar no lugar de um semelhante em dificuldades ou apuros extremos.
A estes últimos que não se importam com o acontecimento em solo gaúcho simplesmente por se sentirem seguros a centenas de quilômetros, deixo o alerta de que também serão impactados pela tragédia no Sul, pois o Rio Grande é um dos estados que mais produz arroz, soja, leite e carne (bovina, suína ou avícola, de onde também saem os ovos da omelete). Isto certamente trará uma pressão inflacionária que atingirá a todos, com o risco maior de haver algum desabastecimento em algumas áreas, elevando ainda mais a ameaça de aumento de preços.
O turismo também será afetado de forma substancial. Quem pensava ou desejava conhecer os pampas, certamente mudará de ideia, pois ao chegar ao Rio Grande do Sul já não encontraria estradas transitáveis, pois a chuva inclemente destruiu boa parte do asfalto e a correnteza arrastou algumas pontes que permitiam a travessia sobre os inúmeros rios que cortam aquele estado. Além disso, o aeroporto Salgado Filho, também alagado, ficará fechado até o final de maio. Portanto, por mais dinheiro que se tenha, seria impossível hoje pensar em fazer turismo no Rio Grande do Sul. Além disso, por mais perdulário que fosse esse aventureiro, duvido que estaria disposto a pagar até R$ 80,00 (oitenta Reais) por um litro de água, que é o valor que alguns desalmados estão cobrando das vítimas, já tão violentadas e impactadas pela força da natureza.
Não é mesmo o momento de se buscar culpados. Esta questão deverá ser tratada com sobriedade depois que a situação começar a se normalizar, o que ainda vai levar algum tempo. Neste exato instante, o principal é acolher os que já foram resgatados e resgatar aqueles que ainda estão ilhados, molhados, sobrevivendo em perigosas encostas ou sobre telhados.
Há algumas décadas, o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues celebrizou a frase "O mineiro só é solidário no câncer", atribuindo a autoria ao jornalista Otto Lara Resende (1922-1992), que sempre a negou. Mas, neste momento, mineiros, gaúchos, paulistas, amazonenses, paraibanos, sergipanos e catarinenses, entre outros habitantes deste país devem se unir para realizarem ações de solidariedade ao povo do Rio Grande do Sul, pois além das perdas materiais o impacto psicológico da tragédia vai perdurar por muito tempo.
Isto me faz pensar que a tal da empatia deve existir a todo instante. Não podemos ser solidários apenas no câncer (e não me importa agora de quem é a frase). O que nos importa, eleva e reconforta, é sempre olhar para o próximo com muito amor.
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