Arte & manhas | Segunda-feira é o dia ideal para se refletir sobre passado e futuro

Embora oficialmente a semana tenha início no domingo, é na segunda-feira que a maioria das pessoas volta à normal rotina de sair de casa para trabalhar e, ao fim da tarde, voltar para casa para o merecido descanso. É claro que há exceções: mesmo aos domingos: jornalistas continuam em seus plantões; artistas continuam a se apresentar em teatros ou têm suas imagens exibidas em imagens gravadas; médicos e enfermeiros continuam a salvar vidas em hospitais; frentistas continuam a abastecer caminhões e automóveis; atendentes de supermercados e shoppings exibem simpatia para atender os que ainda têm condições de ir às compras; mas, neste momento nos cabe pensar nos bombeiros que atuam no atendimento e resgate de vítimas de acidentes e tragédias, como esta que assola - ao que parece sem intenção de dar trégua - o estado do Rio Grande do Sul.

Depois de um domingo onde pipocaram notícias dos mais variados naipes, sendo a maioria delas ruins, buscamos alento no colchão, tentando lembrar, ainda, que no último domingo também se celebrou o "Dia das Mães". Foram lembradas as que ainda estão entre nós e aquelas que deixaram órfãos; também e especialmente aquelas inconsoláveis que viram seus filhos perecerem levados pelas águas do Guaíba.

Assim, após um fim de semana marcado por lágrimas provocadas por emoções diversas, saímos das nossas camas na segunda-feira com as pálpebras ainda reticentes e vacilantes e, ao primeiro choque da água no rosto, misturam-se as imagens do dia anterior com as dos sonhos, que acabam por se esvair pelo ralo ou ficam guardadas para posterior processamento em algum cantinho do nosso córtex pré-frontal.

Além da obrigação de pensarmos em todas as informações e estímulos externos que recebemos entre a noite de sexta-feira e a manhã desta segunda, também somos instados a nos preparar para os compromissos da semana de trabalho, tentando criar uma barreira que evite esta osmose, na qual as informações recém recebidas poderiam penetrar de forma nociva as nossa melhores convicções. Preciso confessar: para mim é um movimento bastante duro e difícil, mas até a Bíblia tenta justificar, dizendo que "no mundo tereis aflições".

Pereio

Voltando à questão do drama gaúcho, que tanto nos comove e afeta, quero lembrar que neste domingo um desses gaúchos, nascido em Alegrete, veio a falecer bem distante de seu estado natal. O ator Paulo César Pereio, que vivia no Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro, se foi neste último domingo, aos 83 anos de idade.

Ele trabalhou na TV, cinema e teatro, tendo participado de mais de 60 filmes sob a direção de diretores consagrados, a exemplo de Hector Babenco, Glauber Rocha e Arnaldo Jabor. Também atuou em publicidade, como ator ou locutor, e a levou muito a sério, afirmando, certa vez: "Levo muito a sério e considero tão artístico como qualquer outro trabalho. De vez em quando, os publicitários fazem obras de arte em 30 segundos". Seus principais trabalhos em novelas foram as participações em "Roque Santeiro", "Mandala", e "Salvador da Pátria", exibidas pela Rede Globo. Outra atuação marcante de Pereio foi como apresentador do Variety 90 minutos, exibido pela Rede Bandeirantes no início dos anos 1980, onde a sua inteligência e irreverência se mostravam de forma mais espontânea e explícita.

Assim, caros leitoras e leitores, apesar deste fim de semana marcado por enxurradas de lágrimas, apelo para que ainda possamos pensar, depois de respiramos fundo e lavarmos nossos rostos, que ainda nos é possível sonhar alguma felicidade. Caso contrário, viver não valeria a pena.