Quando escrevemos uma crônica, um texto rápido para consumo imediato, não temos a pretensão de que ele se torne objeto de estudo filosófico. Porém, alguns gênios conseguem transformar algumas de suas frases ou versos em objetos de profunda reflexão. Foi o que conseguiu Carlos Drummond de Andrade, por exemplo, quando ao final da crônica “Fala Amendoeira”, a própria árvore lhe disse: Outoniza-se com dignidade, meu velho.
Mas, voltando ao título deste breve texto, pretendo me referir a uma canção de Vinicius de Moraes que, a princípio, parece coisa à toa, mas não é: ao escrever e cantar “tem dia que eu fico pensando na vida e, sinceramente, não vejo saída. Como é, por exemplo, que dá pra entender, a gente mal nasce e começa a morrer”. Mais do que uma canção, esta letra nos traz mensagens e apelos filosóficos em cada um dos seus versos, embora pareça um poema frugal, daqueles que podem ser lidos durante o café da manhã sem que tragam consequência para o resto do dia.
Porém, precisamos nos ater ao que fazemos com este tempo de viver que nos é concedido, com o que acrescentamos de bom a nós mesmos e a todos os que nos envolvem. E é nesta reflexão que retorno à minha própria história, deixando que todos os meus erros, equívocos e enganos batam novamente em meu peito e firam meu coração, não de maneira mortal, mas de forma que provoquem o arrependimento verdadeiro e me acendam luzes de novas sabedorias, sempre lembrando que “a hora do sim é um descuido do não”.
A canção de Vinicius também diz: “Que nada renasce antes que se acabe, o sol que desponta tem que anoitecer”. Parece óbvio, mas se pensarmos em nós como sementes, haveremos de fazer com o nosso legado seja frutífero, para que as sementes que deixarmos por aqui no instante da morte prosperem e tragam flores para enfeitar olhares ou sombras para o descanso dos mais exaustos.
Embora singela e em ritmo ligeiro, esta canção é genial. Então, deixo a pergunta: será mesmo que a vida tem sempre razão?
Quem sabe, se a confrontássemos vez ou outra, talvez o dia seguinte poderia ser mais próspero. Soberba? Ousadia?
Apenas o amanhã nos dirá.
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