Liderança que ganhou projeção política ao ser eleito em uma onda bolsonarista em 2018, o então conhecido como Comandante Moisés teve um mandato atípico em Santa Catarina, superou a pandemia de coronavírus e enfrentou dois processos de impeachment, tendo sido afastado do governo, mas absolvido em ambos casos.
Buscou a reeleição, porém não foi ao segundo turno contra Jorginho Mello por uma diferença de cerca de 17 mil votos do PT, de Décio Lima. Agora, dois anos após a derrota eleitoral, o bombeiro concedeu entrevista exclusiva ao jornalista Marcos Schettini e fez uma análise do cenário político estadual e nacional.
Ferrenho crítico de Little Jorge, o ex-governador observa a atual gestão como engessada, que não ouve os anseios do cidadão e prioriza embates políticos. De acordo com Moisés, a ausência do diálogo já ficou demonstrada durante a transição em 2022.
Ainda, Moisés afirma que pode disputar as eleições em 2026 e que a disputa majoritária pode ficar ainda mais desenhada após a disputa da Mesa da Alesc em fevereiro. Confira:
Marcos Schettini: A esta altura de quase metade do governo Jorginho Mello, qual sua avaliação?
Carlos Moisés da Silva: Costumo dizer que quem julga um governo é a população a cada 4 anos, mas é verdade que às vezes julga mal [risos], porém, posso dizer que esse governo paralisou Santa Catarina nos últimos 18 meses, e tudo o que havíamos deixado em andamento lá em 2022, após essa paralisação injustificada, começa a ter vida com outro nome. É o caso mais recente do corredor logístico litorâneo para desafogar a BR-101 Norte, no qual até a extensão é a mesma (144 km), mas resolveram, sem nenhuma vergonha, chamar de Via Mar. Nosso Estado, lamentavelmente, paga um alto preço com a escolha que fez, e isso não é um problema meu, é um problema de todos nós, infelizmente.
Schettini: Ele tem dado continuidade às obras que o Sr. Começou? Foi convidado para as inaugurações?
Moisés: Foram paralisadas mais de 400 obras em convênios com os municípios, que aos poucos foram sendo retomadas, algumas delas, com recursos próprios das cidades, outras por decisão judicial, como foi o caso de Pedras Grandes, com a Rodovia da Imigração Italiana, onde o prefeito Agnaldo Filippi precisou judicializar para que o atual governo honrasse com as parcelas do convênio firmado entre o Estado e o Município. Sobre ser convidado, obviamente que nunca, pois não se pode esperar muito de uma gestão que se negou a fazer uma simples transição de governo, lá em novembro de 2022, pois rejeitou qualquer condição de diálogo. Governos com esse perfil, permanecem em campanha durante os 4 anos, e a gestão fica prejudicada. Quem sofre é o cidadão.

Schettini: Como o Sr. avalia o recente processo eleitoral? Quem ganhou e quem perdeu?
Moisés: Perceptível, nestas eleições municipais de 2024, o enfraquecimento do Partido dos Trabalhadores e o avanço da centro-direita no Brasil, saindo o PSD como o grande vencedor destas eleições. Foi possível observar que no campo da direita, as disputas dentro dos que se dizem conservadores, acabou promovendo um racha que trará intercorrências para as eleições de 2026. Em Santa Catarina as eleições seguiram de forma muito semelhante aos números nacionais.
Schettini: O processo eleitoral de 2026 já começou e os movimentos já estão em construção. Qual o quadro?
Moisés: Quando falamos de Brasil, qualquer previsão hoje é precipitada, pois as condições de elegibilidade dos principais nomes podem definir o cenário e grupos políticos que vão disputar as eleições nacionais em 2026. Alguns nomes da direita (ou que se dizem de direita) começam a sofrer ataques dos grupos mais atuantes tanto nos segmentos religiosos, quanto na militância política de direita, propriamente dita. É prudente esperarmos para ver quem vai estar de pé, elegível e solto, para podermos fazer qualquer previsão.
Schettini: O Republicanos saiu de 2024 com qual altura?
Moisés: Importante lembrar que não estou mais na condição de presidente do Republicanos aqui em Santa Catarina desde antes das eleições, por isso não devo me aprofundar no tema. Acredito que o resultado do partido teria sido melhor se a confiança que o grupo tinha desde o início fosse mantida, pois o que houve aqui foi inédito na política, e trouxe muita desconfiança no processo eleitoral. Após o fechamento da janela partidária houve a troca de comando do partido aqui no Estado, fazendo com que muitos desistissem de concorrer nestas eleições de 2024, e mostrou uma legislação eleitoral que não contribui com a pluralidade partidária e nem com a democracia.

Schettini: Quem são os partidos franco-favoritos em 2026? Qual o cenário?
Moisés: A pergunta, me permita, poderia ser: quem vai resistir aos encantos da sereia (a sedutora máquina estatal), ou então, quem vai resistir ao chicote do aparato estatal ativista político, incluindo seus órgão e poderes, e vai estar de pé até 2026?
Nesse cenário, a resposta ao resultado das eleições municipais, naturalmente indica intenções, que ainda esperam ações concretas. É possível ver o MDB discutindo espaço no governo, e espaço para os que não terão mandato em 2025, caso contrário ameaça ter um projeto próprio. O PSD lança seu balão de ensaio com o prefeito de Chapecó, o que certamente poderá avançar, a depender do resultado da eleição da mesa da Alesc em fevereiro de 2025. Novos movimentos poderão surgir no cenário das eleições majoritárias em SC, mas estes dependem de definições nacionais. Pode-se dizer que ainda é cedo para conclusões.
Schettini: A máquina do governo tem peso. Em que ela pode modificar o mapa eleitoral das estaduais?
Moisés: Tem muito peso, resta saber para qual lado da balança. Penso que a máquina é muito forte quando o governo é realizador e criativo, mas quando o governo não entrega resultados para a população, essa mesma máquina depõe contra o próprio governo.
Schettini: As eleições do último domingo dizem o que da disputa presidencial e ao governo?
Moisés: Muitos nomes surgem no cenário da direita e já começam a ser atacados por não rezarem uma espécie de “cartilha voz única”. No cenário da esquerda, é visível a autofagia, creio que movida pela falta de resultados eleitorais e por projetos pessoais. Me parece que o eleitor se afasta cada dia mais dos candidatos. De fato, muitos não representam a vontade desse eleitor cansado da polarização, tampouco, vivem o que pregam.
Schettini: Qual é seu futuro político?
Moisés: Costumo dizer que, se Deus quiser e eu viver, estarei nas urnas em 2026.

Schettini: O Sr. acredita que estas ondas extremistas irão continuar ou se fragilizar até 2026?
Moisés: Eu fui eleito numa onda em 2018. Essa onda que me levou ao poder, trouxe para a gestão do nosso Estado o melhor time de pessoas para comandar Santa Catarina, com resultados que jamais foram alcançados, além de levar ao poder um governo municipalista que olhou por todas as cidades e para cada cidadão, sem olhar partidos. Combatemos a corrupção e revisamos contratos, batendo recordes em investimentos em todas as áreas, em especial na educação, que hoje lamenta nossa ausência. Inovamos, criamos soluções, enxugamos a máquina pública. Resta saber o que o povo vai escolher, porque já tinha o melhor governo, mas voltou a votar em números nas eleições de 2022.
Schettini: É correto afirmar que o resultado da Mesa da Alesc em fevereiro vá dizer tudo dos passos em 2026?
Moisés: Poderá dar o tom e os rumos na eleição ou será apenas uma moeda de troca para uma vaga ao Senado. Quem é pródigo para fazer apostas?
Schettini: Onde o Sr. errou em seu governo?
Moisés: Quem não faz, não erra. Nosso saldo foi extremamente positivo, e os números falam por si. No governo costumávamos chamar de “conjunto da obra”. Desde as ações de governo digital (sem uso de papel), eliminação de Secretarias Regionais que geravam despesas sem resultados para as pessoas, até a economia nos contratos que eram revisados em seus valores e termos. Nosso time de governo trabalhou alegre, com sentimento de estar cumprindo uma missão, mesmo sofrendo perseguições dos cegos, dentre os quais, hoje, alguns já foram curados, já podem ver. Muitas de nossas sementes ainda germinam hoje, e Santa Catarina colherá os resultados. Nosso povo é um povo bom, trabalhador. Espero que volte a ter uma gestão a altura dos catarinenses.
Acredito que alguns de nossos erros se basearam no fato de não termos feito tudo o que projetamos. Não deu tempo! Aliás, fomos o governo que investiu dois anos cuidando dos catarinenses na pandemia, com o melhor resultado do Brasil. Salvamos pessoas!
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