Como explicar o inexplicável? Como explicar a Chapecoense? Como explicar a noite em que mesmo vazia, a Arena Condá pulsou na frequência de milhares de corações e o silêncio - que ocupou o concreto das arquibancadas durante toda a temporada - deu espaço ao grito, apaixonado e ensurdecedor, que chegava, em uníssono, de todo canto de Chapecó? Muito mais do que tentar explicar, é preciso sentir. E para sentir, você precisa se desarmar. Precisa deixar de lado as suas crenças e influências. Precisa permitir que a Chapecoense exista tão forte em você quanto você mesmo.
Vamos do início, mas não dá partida. Vamos lembrar do começo da história, em 1973, mas principalmente do nosso passado recente. Afinal, há exatos 50 meses havia mais dúvidas do que certeza e jamais imaginaríamos voltar a viver momentos de alegria. Vimos, no entanto, a solidariedade, a empatia, o trabalho e a coragem serem as pedras fundamentais da reconstrução. Coragem essa, aliás, fielmente defendida pelo presidente que tantas vezes pregou que ninguém é maior do que a Chapecoense e, de fato, permitiu que o time se tornasse um gigante inalcançável aos olhos do egoísmo ou da inveja. Vimos, também, a re-união de uma família composta por atletas, funcionários, diretores, apoiadores e torcida com o objetivo maior de afirmar o orgulho
Enfim, a partida. Outrora, diríamos que o que aconteceu em campo ficou em segundo plano diante da emoção que tomou conta de cada um dos chapecoenses além das quatro linhas. Mas ontem, o que se viu na cancha foi uma prova perfeita de que sim: há justiça no futebol e a Chapecoense é - e sempre será - um time predestinado a fazer história.
Um olho no índio, outro no coelho. Intermináveis minutos de atraso e, por fim, o apito inicial. Em poucas voltas dos ponteiros, a tensão deu lugar a doses extras de esperança quando o artilheiro Anselmo Ramon, aos três minutos, recebeu de Denner, dominou e chutou rasteiro, no canto, sem chances para o arqueiro adversário. Na mesma rapidez, no entanto, a apreensão voltou a procurar espaço quando recebíamos, das terras mineiras, a notícia de que o adversário direto na briga pela taça abria dois gols de vantagem enquanto o adversário sequer esboçava reação. Na primeira parte do jogo na Arena Condá, perdemos as contas de quantas foram as chances que, literalmente ou não, bateram na trave. Só não perdemos a boa e velha esperança
Voltamos para o segundo tempo precisando balançar as redes em mais duas oportunidades, mas foi o adversário que, aos nove minutos, marcou. Poderia ter sido um banho de água fria, mas a Chapecoense sempre se saiu bem debaixo de chuva e, desta vez, não seria diferente. As boas notícias de resultados favoráveis corriam tanto quanto Perotti, que entrou em campo, invadiu a área no tempo preciso e, de carrinho, marcou o segundo. Faltava um gol e poucos minutos. Não se via, no entanto, nos domínios verde e branco, nenhum olhar desacreditado. Todos sabiam que a alcunha de time do surpreendente nunca foi em vão. Foi no apagar das luzes, então, que o drama se transformou em festa. A arbitragem assinalou pênalti após Bruno Silva ser derrubado na área, e Anselmo Ramon pegou a bola para a cobrança. Ajeitou na marca da cal e jamais se saberá o que pensou. Uma eternidade separou o momento da fria e calculista cavadinha do instante em que a bola beijou a rede. Mas, enfim, o gol! O grande momento do futebol. A justa coroação das batalhas homéricas travadas, diariamente, por quem veste o manto alviverde.
Quando a taça foi erguida, vimos tantos milagres! Alan Ruschel e Neto, que num outro dia 29 renasciam, ontem viviam intensamente a alegria do merecimento. Umberto Louzer, incontestável, extravasavam o sentimento do inédito título de uma trajetória curta, mas vitoriosta. Alívio, êxtase, fichas custando a cair, emoção. Chapecó, como há um tempo não se via, foi tomada pela onda VERDE e BRANCA. Não faltaram sorrisos, brilho nos olhos, abraços de desconhecidos e gritos de É CAMPEÃO se despedindo da garganta junto da voz que só voltará dias depois. Se ainda havia alguma dúvida, ontem isso mudou. A Chape provou porque é o primeiro time de muitos e o segundo time de todos. Estamos de malas prontas e passaporte carimbado para a Série A, com direito a excesso de bagagem por uma taça inédita e uma camisa pesada.
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