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REPORTAGEM ESPECIAL

Velório coletivo das vítimas do voo da Chape transbordou emoção

O LÊ acompanhou as homenagens de sábado (05) e registrou cada momento
Por: LÊ NOTÍCIAS
07/12/2016 16:38 - Atualizado em 07/12/2016 17:40
Celebração reuniu cerca de 20 mil pessoas na Arena Condá (Fotos: Felipe Giachini e Janquieli Ceruti/LÊ) Celebração reuniu cerca de 20 mil pessoas na Arena Condá (Fotos: Felipe Giachini e Janquieli Ceruti/LÊ)

“O campeão voltou!” entoava a torcida chapecoense quando os caixões chegaram à Arena Condá. Vindos da Colômbia, eles aterrissaram em dois aviões da Força Aérea Brasileira, as 9h28 e as 9h43 do sábado (03), no Aeroporto Serafin Enoss Bertaso. Recepcionados com honras militares, os 50 dos 71 mortos foram recebidos em meio à forte chuva e grande comoção. Como se a esperança de que tudo não passasse de um sonho naquele momento tivesse terminado, pela primeira vez os caixões foram vistos pessoalmente por amigos e familiares, que aguardavam ansiosamente a chegada dos corpos após a queda da aeronave da Chapecoense na madrugada de terça-feira (29) perto da cidade de Medellín. A viagem, que levaria o time brasileiro rumo à conquista da Copa Sul-Americana na disputa com o Atlético Nacional de Medellín, terminou de forma trágica. Com a queda, ao que tudo indica causada por falta de combustível, apenas seis sobreviveram. Entre os mortos, jogadores, comissão técnica, dirigentes, jornalistas, convidados e tripulantes.

A Colômbia impressionou o mundo. Até o translado ao Brasil, o país realizou intensas homenagens aos mortos e seus familiares. A atitude colombiana fez com que o Atlético Nacional ganhasse milhões de torcedores nas mais distantes regiões do planeta. O choro nas arquibancadas do estádio Atanasio Girardot Sports Complex não deixou dúvida da tristeza e admiração dos anfitriões. Estas, de tão verdadeiras que foram, levaram o Clube a pedir o título da competição à Chapecoense. Com a nobre atitude, gremistas ou colorados, que também tinham a Chape como time do coração, passaram a ter três escudos estampados na alma.


Homenagens na Arena Condá foram marcadas pela emoção

Os caminhões, que saíram do aeroporto por volta das 11h15, percorreram cerca de 10 quilômetros por ruas de Chapecó até chegarem à Arena Condá. Por uma hora, a comunidade – que não foi até o gramado do Clube, teve a oportunidade de dar o último adeus aos ídolos. E fizeram isto em peso. Mesmo com a forte chuva, que caiu durante todo o dia, os chapecoenses mobilizaram-se nas ruas com flores, cartazes e faixas. Muito emocionados, era visível que um prestava apoio ao outro. Era como se a verdade estampada aos olhos não quisesse ser aceita pela emoção.

Muito aplaudidos, os caixões foram carregados por militares na chegada para o velório coletivo. Numa área coberta e privada aos familiares, uma a uma das 50 urnas funerárias foram acomodadas. A partir de então, aos olhos de milhares de pessoas que observavam atônitas o cortejo, iniciaram as homenagens. No espaço de honra, autoridades municipais, estaduais, nacionais e internacionais acompanharam as reverências. Estiveram presentes o governador Raimundo Colombo, o vice Eduardo Pinho Moreira e o presidente da República Michel Temer. Além destes, o embaixador da Colômbia, Alejandro Borda; o prefeito de Chapecó, Luciano Buligon; o deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (Alesc), Gelson Merisio; o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo Del Nero; o técnico da seleção brasileira, Tite; representantes religiosos, como o bispo Dom Odelir, e o jornalista Cid Moreira, entre outros, compareceram às homenagens.

Ao discursar, Buligon, que vestia o manto do Atlético Nacional, prendeu a atenção de todos pela articulação e leveza de suas palavras. “Não é à toa que visto essa camisa. O clube fez uma belíssima homenagem a todos nós. O mais brilhante de todos foi a frase que eles cunharam em sua página na internet: ‘A Chapecoense veio para Medellín com um sonho e voltou como uma lenda’", destacou o prefeito depois de viajar de Medellín até Chapecó naquela manhã.

As palavras do Papa Francisco foram transmitidas pelo bispo de Chapecó, Dom Odelir José Magri, e emocionaram a multidão. "Consternado pela trágica notícia do acidente na Colômbia, o Papa pede que sejam transmitidas suas condolências e sua participação na dor de todos os enlutados. Ao mesmo tempo, pede ao céu conforto e restabelecimento para os sobreviventes e coragem e consolação para todos os atingidos pela tragédia", diz a mensagem, que é assinada pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin.

A igreja adventista também fez questão de trazer alento aos corações tão sofridos de familiares, amigos e outras pessoas próximas das vítimas. A escolha na leitura do texto não poderia ser melhor. O jornalista e cristão adventista Cid Moreira fez a leitura de trechos da Bíblia. “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor”, expôs Cid para a emoção de uma massa de presentes, internautas e telespectadores em todo o mundo.

Torcida da Chape: olhos de dor e mãos de fé

"Vamo, vamo, Chape" vibravam crianças, adultos e idosos. Torcedores de todas as idades emocionaram-se com as homenagens prestadas às vítimas da tragédia. O desespero dos familiares, que estavam afastados do público que lotou a Arena, mas foi transmitido em telões, também sensibilizou a torcida. Semblantes apagados e cobertos por lágrimas, que teimosamente insistiam em cair. Era a limpeza da alma. Num dia como o sábado, de tamanho sofrimento, o clima da alma e da natureza não poderiam ser diferentes: chovia no céu e no peito. Novas honras militares, coroas de flores, discursos, vídeos com homenagens de atletas conhecidos, desfile de crianças vestidas com uniforme da Chape e de familiares com imagens das vítimas estiveram no roteiro. Enquanto os olhos de uns voltavam-se para o chão, as mãos de outros ergueram-se ao céu. O clamor era por descanso às vítimas, paz aos que ficaram e na fé de novos dias de glória à Chape.


IMORTAL CAMPEÃ
Chape vence Sul-Americana e receberá R$ 6,9 milhões

A confirmação de que a Chapecoense, que disputaria a final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional de Medellín, será declarada campeã da competição continental chegou em meio ao velório das vítimas. O presidente da Chape, Ivan Tozzo confirmou o posicionamento da Conmebol. “Sim, a Conmebol vai declarar a Chapecoense como campeã da Copa Sul-Americana”. Ele ainda destacou que o Clube vai receber a premiação de US$ 2 milhões (R$ 6,9 milhões) pelo campeonato. "Já está tudo confirmado. Não sei se vai ter cerimônia para receber a taça de campeão”.

Como campeã da Sul-Americana, a Chapecoense garante vaga na Libertadores do próximo ano. A informação é do vice-presidente do conselho deliberativo do clube catarinense. Conforme ele, os próximos passos serão definidos em novas reuniões. “A diretoria precisa ser remontada em 10 dias. A Chapecoense tem cinco competições no ano que vem: o Catarinense, o Brasileiro, a Libertadores, a Copa do Brasil e a Sul-Americana. Nós já temos alguns nomes mapeados para nos ajudar a formar um nove time. Temos que reconstruir o mais rápido possível”.

Já Tozzo agradeceu a comoção de todos no mundo com a tragédia, principalmente pelas mensagens e a vontade de ajudar demonstrada para com a Chape. Ainda assim, porém, o mandatário preferiu esperar mais alguns dias antes de definir como reestruturará a equipe de futebol. “Esse momento nós estamos começando a reconstrução do time. As pessoas querem futebol, as pessoas amam futebol em Chapecó. E a grande alegria da nossa cidade do oeste catarinense no futebol é a Chapecoense. Então temos que dar continuidade a isso, vamos conversar e acertar, deixar baixar a poeira, e vamos reconstruir o time para o ano que vem”, salientou. Ele ainda expôs que “a gente está recebendo apoio de todas as federações, CBF, Conmebol, Fifa e, principalmente, do povo de Chapecó. Tenho certeza que o povo de Chapecó vai abraçar a causa e todo mundo vai ajudar. Tivemos apoio de pessoas de fora, dos clubes ajudando. Primeiro foi aquela meta de confortar a família. Agora, a segunda meta, a partir da semana que vem, é começar a pensar e fazer planejamento”, concluiu.

900 jornalistas cobriram velório coletivo; 21 colegas morreram no acidente

Os familiares e a torcida não estão sozinhos quando se trata da dor sentida pela partida prematura de 71 pessoas com a tragédia envolvendo a Chapecoense. Na catástrofe, 21 jornalistas, que cobririam o duelo histórico na Colômbia, também perderam a vida. Há uma semana, jornalistas cobrem, com intenso pensar, o acidente e a repercussão dele. Humanos como os que ficaram e os que partiram, os jornalistas precisam lidar com a emoção da perda de colegas de equipe. De qualquer maneira, o que vale em um momento como este é a empatia com os profissionais que, assim como os que ficaram, batalharam para alcançar a formação e a consolidação no mercado. Duas dezenas de jornalistas mortos a caminho da realização encheram de pesar o coração dos que ficaram e, necessariamente, revestiram-se de coragem para contar a dor do outro que é, sem dúvidas, muito parecida com a deles.

No Aeroporto de Chapecó e na Arena Condá, cerca de 900 jornalistas de 15 países suportaram a chuva forte e fria em comunhão com todos os demais presentes para mostrar ao mundo o que acontecia no coração do Verdão do Oeste catarinense. Seja na TV, no rádio, na internet, nas assessorias de imprensa, na revista ou no jornal, cada um dos profissionais colocou muita criatividade e sentimento nos textos escritos ou falados. Eles homenagearam, por meio do árduo e gratificante trabalho, os profissionais de imprensa: Victorino Chermont; Rodrigo Santana Gonçalves; Deva Pascovicci; Lilacio Pereira Jr.; Paulo Clement; Mário Sérgio; Guilherme Marques; Ari de Araújo Jr.; Guilherme Laars; Giovane Klein Victória; Bruno Mauri da Silva; Djalma Araújo Neto; André Podiacki; Laion Espindula; Renan Agnolin; Gelson Galiotto; Fernando Schardong; Edson Ebeliny; Douglas Dorneles; e Jacir Biavatti.


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