Em 2018, o Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina atendeu mais de 100 mil ocorrências relacionadas a urgências e em todas elas existiu algo em comum: o tempo. Em muitos casos, o período gasto no deslocamento é imprescindível para o sucesso do atendimento e, por isso, a campanha “Abra Caminho para a Vida” busca conscientizar a população para que as viaturas de emergência tenham sempre preferência.
O tenente Ian Triska, subchefe da Comunicação Social do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina, conta que existe uma prática na corporação chamada de “golden hour” ou “hora de ouro”, em português, dizendo que quanto mais rápido for o atendimento, mais chances de sobrevida possui a vítima, ou menor a chance de sequelas decorrentes do acidente.
“Imagine um acidente de carro, com uma pessoa presa nas ferragens. A hora de ouro é o tempo completo do atendimento. Ou seja, desde a identificação do acidente, passando pelo acionamento pelo telefone, deslocamento até o local, atendimento da ocorrência e novo deslocamento até o hospital. Tudo isso influencia, então, quanto mais rápido a gente conseguir realizar o nosso trabalho, maior a sobrevida que nós damos para essa vítima. É importante que as pessoas estejam conscientes que isso pode custar a vida ou a morte do cidadão e é muito grave”, informa.
Segundo o tenente, é mais comum que as pessoas pensem apenas na ambulância como veículo de emergência. Na verdade, são todos aqueles que estão prontos para atendimentos de urgência. Pode ser um caminhão, uma viatura tracionada 4x4 ou ainda uma aeronave. "São veículos que estão prontos para dar suporte imediato à vida", pondera Ian Triska. Atualmente a corporação conta com 435 viaturas de emergências ativas, sendo 184 ambulâncias (ASU), 113 caminhões ABTR, 34 caminhões tanque AT, 100 viaturas de resgate AR, além de quatro aeronaves.
“Quando a ocorrência chega ao telefone 193, o Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina está pronto pra atender, e a gente vai deslocar para onde quer que seja ou para quem quer que seja, fazendo o bem sem olhar a quem. Por isso contamos com a população para nos auxiliar prestando a atenção no trânsito, deixando espaços para as nossas viaturas“, suplica Triska.
Além do trânsito, com os veículos no dia a dia, as situações envolvendo aeronaves também precisam de atenção redobrada. O Arcanjo, helicóptero dos Bombeiros, pode precisar pousar em estradas e ruas para concluir resgates e, por isso, é necessário que os motoristas tenham paciência com a situação, que depende muito da cooperação das pessoas.
"Em algumas situações, a gente pousa em áreas que uma aeronave comum não pousa, com pessoas e veículos, então a gente precisa contar com consciência da população, que precisa se afastar, abrir uma boa área, para que o atendimento seja realizado com sucesso, sem que haja uma intercorrência”, explica o coordenador médico aéreo do Grupo de Resgate e Atendimento de Urgência de Santa Catarina (Grau), Bruno Quércia.
BOM SENSO
O intuito do Corpo de Bombeiros ao solicitar a campanha para a Secretaria de Estado da Comunicação foi de alertar a população para que haja um bom senso dos motoristas no trânsito. Quando um veículo de emergência tiver luzes acesas, mesmo sem o sinal sonoro, significa que a equipe de serviço está transitando, retornando de uma ocorrência. Mais uma situação que precisa ser feita com agilidade. “É necessário fazer a assepsia dos veículos antes de seguir para um novo atendimento, as equipes fazem a higienização do veículo, a esterilização dos equipamentos e também a reposição de materiais. Ou seja, mesmo nesses casos a abertura da pista para a passagem é importante”, pondera o tenente.
Nestes momentos, apenas os sinais luminosos estão ligados e muitos motoristas deixam de dar passagem, fazendo com que as viaturas fiquem presas nos engarrafamentos. Assim, outras ocorrências podem ser prejudicadas. “É sempre bom respeitar e ajudar estes veículos porque eles precisam estar sempre prontos para receber alguém. Inclusive, pode ser um familiar dessas pessoas que estão trancando o trânsito”, justifica Triska.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), também apresenta dificuldades relacionadas com o deslocamento. A média do tempo, calculada em setembro, foi de 13 minutos e 30 segundos. O objetivo é diminuir essa resposta e chegar a 10 minutos, desde o chamado telefônico, pelo número 192, até a chegada da unidade até o local indicado.
Hoje o Samu atende mais de dois mil pacientes por mês em Santa Catarina, com 25 ambulâncias de Suporte Avançado, que possuem acompanhamento médico e funcionam como uma UTI móvel, além de 96 unidades de Suporte Básico, que atendem os casos com menor risco de morte e possuem acompanhamento de técnico de enfermagem. Com a diminuição do tempo de deslocamento, a previsão é que passem a ser atendidos mais pacientes ao mês.
“É necessária uma mudança de cultura da população para entender que qualquer veículo de emergência que esteja na rua, mesmo sem as sirenes ligadas, apenas os sinais luminosos, que têm um motivo. As nossas ocorrências só terminam quando as viaturas retornam para a base, assim reorganizamos os nossos materiais para que estejamos prontos para um próximo atendimento”, justifica Quércia.
A agilidade conta também para o sucesso das cirurgias realizadas no Estado. Segundo o coordenador estadual de transplantes em Santa Catarina, Joel de Andrade, o tempo é curto e preponderante para que o procedimento seja bem sucedido. Principalmente no caso de órgãos específicos. É fundamental a precisão nos procedimentos: “Entre o órgão ser retirado do doador e ser implantado no receptor, existem tempos máximos, especialmente para coração e pulmão. Entre parar de funcionar no doador e estar implantado no receptor, são apenas quatro horas de intervalo, com o máximo de extensão até seis horas”, esclarece.
Imaginando a logística de um doador que está em Chapecó e um receptor em Joinville, existe uma série de processos que devem ser realizados. “Existe o tempo de sair do hospital, ir ao aeroporto, decolar, aterrissar, sair do aeroporto e chegar ao segundo hospital. É fundamental, nesses braços que envolvem rodovias, que o trânsito seja aberto, porque sem isso o tempo se dilata e a qualidade do transplante cai muito”, detalha Andrade.
A coordenadora do sistema nacional de transplantes, Daniela Salomão, parabeniza o Estado pela iniciativa inédita. “Quanto mais rápido o órgão chegar até a equipe para ser transplantado maior a chance de sucesso. Essa iniciativa é muito bem-vinda porque também é mais uma forma de divulgar a doação e das pessoas ouvirem falar da importância de todas as etapas necessárias”, comemora.
LEGISLAÇÃO
Além de bom senso, grande parte da população desconhece o fato de que existem penalizações para quem não abrir passagem para os veículos de emergência. O Código Brasileiro de Trânsito em seu artigo 29, inciso 7, diz que “os veículos destinados a socorro de incêndio e salvamento, os de polícia, os de fiscalização e operação de trânsito e as ambulâncias, além de prioridade de trânsito, gozam de livre circulação, estacionamento e parada quando em serviço de urgência e devidamente identificados por dispositivos regulamentares de alarme sonoro e iluminação vermelha intermitente”.
O que muitas pessoas não sabem é que a própria lei indica que: quando os dispositivos luminosos e sonoros estiverem acionados, todos os condutores deverão deixar livre a passagem pela faixa da esquerda, posicionando-se ao lado direito da via e parando se necessário. O uso dos dispositivos de alarme sonoro e iluminação vermelha intermitente só acontecem quando existe efetiva prestação de serviço de urgência.
Não dar a passagem para estes veículos é uma infração gravíssima, penalizada com multa de R$ 293,47 e aplicação de sete pontos na carteira de habilitação. E para aqueles motoristas que aproveitam a passagem dos veículos para desfrutar do caminho aberto, a infração é grave, com multa de R$ 195,23, com aplicação de cinco pontos na carteira. O código também indica que os pedestres, ao ouvirem os sinais sonoros, deverão aguardar na calçada, esperando para atravessar a via apenas após o veículo de emergência ter passado pelo local.
A CAMPANHA
Criada internamente pela Secretaria de Estado da Comunicação a campanha foi desenvolvida para ser divulgada por meios digitais. “Esta é uma campanha que se destaca em inovação, porque foi produzida exclusivamente com o corpo técnico da Secretaria de Comunicação”, detalha o secretário de Estado da Comunicação, Gonzalo Pereira. Além disso, Pereira também convida a população para replicar esta campanha nas redes sociais. “Não só convidando a compartilhar os materiais, mas também convidando a se associar. Que a gente possa chegar em casa e comentar com a família: hoje eu ajudei a salvar uma vida, hoje eu abri caminho para um veículo de emergência”, complementa.
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