Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)
A distração, justificável na infância, é, em jovens e adultos, seriamente nociva, porquanto diminui as possibilidades de ampliar a própria capacidade com os aportes que, por via da atenção e do interesse, passam ao entendimento e, dali, à memória.
Na juventude, a memorização permite cumprir com facilidade os programas instituídos para a capacitação intelectual e a formação da cultura. Mas, satisfeitas essas exigências, o domínio dos elementos que a memória reteve decai, porque o estudante se habituou a usar a memória como instrumento de repetição, e não a compenetrar-se daquilo que estuda mediante o exercício consciente do ato de pensar.
Os que padecem de falta de memória, por agirem como robôs, atuam de forma não planejada, quase sempre em obediência à lei cíclica que lhes permite desempenhar uma função por simples repetição de movimentos, sem pensar no que realizam, e disso sempre resultam situações incômodas, transtornos, perdas de tempo, etc. Não controlam suas determinações, e vão de um lado para outro, instadas por suas necessidades ou obrigações habituais, mas com a atenção ausente, seja porque alguma ideia atraente as subjugue, seja porque um pesar as invada ou por se deixarem absorver por qualquer circunstância.
A ausência de memória pode ser consequência do muito uso que se tenha feito da faculdade de recordar. Os que carregam grandes responsabilidades: financistas, homens de ciência ou de empresa, etc., frequentemente fazem com que sua memória se ressinta. Confia-se nela a tal extremo, que nem ao menos se procura aliviá-la com anotações parciais do que se exige que ela retenha. A falta de memória em tais casos provém de alterações sofridas pela célula nervosa. A manutenção de um ritmo de atividade mental que force ao máximo a faculdade de recordar faz essa célula ressentir-se com o tempo, sobrevindo a falta de memória, pois não se observou uma medida prudente entre o esforço mental e o descanso anímico. A estafa é a culminação desse estado de esgotamento da célula cerebral. Regular o uso da memória, sem forçá-la em excesso na sua função retentiva, é, em parte, conservar sua plenitude.
Mas a importância da memória assume outros contornos, considerada do ponto de vista da evolução, que requer a memorização consciente, porque, não sendo assim, a pessoa se mantém em desconexão com a própria vida.
O método logosófico mostra como se deve manejar a faculdade de recordar, caso se queira que nada escape ao domínio consciente da memória. |
As imagens gravadas na retina mental com a participação da consciência raras vezes são esquecidas. Existem na vida humana passagens, fragmentos de existência, que tiveram a virtude de conceder-nos instantes de felicidade. Esquecê-los é enterrá-los no passado, como coisa morta. Tamanha ingratidão afeta essas partes da existência que, por serem inseparáveis da vida, reclamam sua recordação. Quando buscadas, convertem-se em estímulos poderosos.
(Texto extraído do livro Deficiências e Propensões do Ser Humano, pág. 80)
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