*Por José Zeferino Pedrozo
Na qualidade de dirigente cooperativista, líder sindical, empresário rural e parlamentar estadual percorri centenas de vezes o território catarinense. De todas as regiões que palmilhei, aprendi a admirar com especial respeito o grande Oeste catarinense. O Oeste é uma prova da capacidade de superação do brasileiro.
Distante do litoral, da capital e dos grandes centros de consumo, com uma topografia severamente acidentada e abandonada pelos sucessivos governos, a região parecia fadada, no início do século passado, a viver um processo de entropia e isolamento. As empresas colonizadoras da época começaram a atrair imigrantes europeus que fugiam da guerra com a entrega de terras na vasta e inóspita região. Etnias profundamente vocacionadas para o trabalho e para a vida comunitária – como a alemã e a italiana – tornaram-se protagonistas desse universo em transformação.
Assim, primeiro irrompeu o ciclo da erva-mate e, depois, o da madeira. Quando o extrativismo deu mostras de esgotamento, surgiu o cultivo de lavouras e a ideia da criação intensiva de pequenos animais (aves e suínos) para abate e processamento industrial. Sob a batuta de pioneiros visionários como Attílio Fontana, Saul Brandalise, Plínio Arlindo de Nes e Aury Luiz Bodanese, entre outros, surgiram pequenas (que depois se agigantaram) agroindústrias, como Sadia, Perdigão, Frigorífico Chapecó e Aurora com a proposta de um sistema integrado de produção, no qual indústria e produtor rural viraram parceiros. Modernas técnicas de manejo, profilaxia e gestão foram introduzidas. A produção explodiu. O Oeste tornou-se centro mundial da proteína animal. A mais avançada indústria da carne está ali instalada. (Faço um parêntesis para assinalar minha imorredoura admiração pelo saudoso Aury Bodanese com quem ombreei por mais de 10 anos no comando da Aurora).
Toda a transformação resultante do talento humano, do trabalho dos pioneiros e do capital dos primeiros pequenos empreendedores gerou uma estrutura de produção admirável, formada pela extensa base produtiva no campo e um avançado parque agroindustrial, compondo um notável ambiente de produção e de negócios. São centenas de indústrias trabalhando direta ou indiretamente em sintonia com mais de 190 mil estabelecimentos rurais. Essa gigantesca máquina produtiva gerou bilhões de dólares em riquezas exportadas e milhões de dólares em arrecadação tributária para os cofres do Estado e da União Federal.
É incompreensível que apesar dessa imensa contribuição, a região continua abandonada. O sistema rodoviário está deteriorado, as deficiências no fornecimento de energia elétrica comprometem a expansão industrial e ao mesmo tempo afetam milhares de propriedades rurais e o sistema de água requer urgente atenção. Os aeroportos esperam investimentos há décadas (especialmente o de Chapecó, um dos mais movimentados do sul do Brasil) e a reivindicação de uma ferrovia para conectar o grande Oeste aos portos marítimos e ao Centro-Oeste, depois de 30 anos, nem sequer tem projeto. Região que muito contribui e nada recebe, o grande Oeste acostumou-se com pouco ou com quase nada. É uma das áreas mais injustiçadas do território catarinense.
*Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Conselho de Administração do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)
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