Entre os meses de março e abril, oito comunidades rurais de Chapecó vão receber o projeto “Cinema na Linha” que consiste na realização de sessões de cinema ao ar livre. A proposta é exibir filmes produzidos aqui mesmo no Estado de Santa Catarina possibilitando o acesso a documentários de curta e média metragem cujas narrativas se relacionam ao universo cultural catarinense.
A estreia do Cinema na Linha será na próxima quinta-feira (12), a partir da 19h na linha Cachoeira. A proposta desta primeira edição do projeto é contemplar comunidades localizadas no entorno de Chapecó, possibilitando que todas as regiões do município tenham sessões de cinema. O Cinema na Linha vai ser realizado nas linhas: Cachoeira, Caravagio, Sede Figueira, Rodeio Bonito, Aldeia Condá, Aldeia Toldo Chimbangue, Baronesa da Limeira. O processo de escolha das datas e dos filmes envolveu as lideranças das comunidades que figuram como importantes parceiras neste projeto. (Cronograma em anexo)
O Cinema na Linha deve ser um grande evento cultural nas comunidades rurais, com distribuição de pipoca e erva-mate, também haverá brindes produzidos através de uma parceria com o Coletivo Inço. Os artistas Audrian Cassanelli e Diana Chiodelli criaram peças, brindes relacionados aos aspectos culturais manifestados pelas comunidades do interior oestino. A ideia é proporcionar entretenimento e reflexão.
As sessões, sempre que o clima permitir, serão ao ar livre. A comunidade local e as que se encontram mais próximas são convidadas para uma noite diferente, de confraternização, de magia através da tela grande, do som que deve propagar as falas de personagens reais, que certamente provocarão um sentimento de identificação, como já percebido em outros momentos em que os filmes das sessões propostas foram exibidos.
Diferentes estudos sobre as causas do êxodo rural de jovens apontam a ausência de atividades culturais, que incluam essas comunidades na agenda cultural da cidade, como um fator importante. O projeto Cinema na Linha pode ser um embrião de uma atividade que a própria comunidade pode organizar, já que a proposta é tornar esses cidadãos sujeitos e mostrar que o Cinema pode ser na Igreja, na cancha de bocha, no salão paroquial, na sala de aula, embaixo as árvores, enfim, em qualquer lugar que haja uma projeção e um coletivo.
O Cinema na Linha é um projeto da Margot Filmes, viabilizado através do prêmio Edital de Fomento e Circulação das Linguagens Artísticas de Chapecó e conta com o apoio da Cresol Chapecó e da Erva-Mate Folle.
PROGRAMAÇÃO
A Caravana Cinema na Linha será entre março e abril de 2020.
FILMES EXIBIDOS
O Goio-en transbordou (2014)
Direção de Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt
Produzido com recursos públicos oriundos da Lei de Incentivo à Cultura.
Sinopse: Entre as décadas de 20 e 70, os moradores do Goio-en, comunidade que fica às margens do Rio Uruguai no município de Chapecó(SC), se alegravam com a possibilidade de cheia no rio. A enchente era sinal de trabalho. Era hora de largar no rio as balsas que transportavam madeira para a Argentina. Enquanto passavam as barcas, as balsas, a vida acontecia no Porto Goio-en. Em 1965 o “Dilúvio” transformou o local. Hoje, o Rio Uruguai transbordou mais uma vez e cobriu boa parte da comunidade. Uma “enchente” provocada pela construção da Usina Foz do Chapecó que mudou definitivamente o destino da comunidade, alterando a paisagem e a história do Goio-en.
Kiki – O Ritual da Resistência Kaingang (2014)
Direção de Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt
Produzido com recursos próprios e oriundos de patrocínio direto.
Sinopse: O filme aborda o mais importante ritual da etnia kaingang, o Kiki, realizado em 2011 na Aldeia Condá, no oeste catarinense. Através de uma abordagem cronológica são mostrados os preparativos na mata e na aldeia. A expectativa dos mais velhos que queriam vivenciar um ritual completo, como há muito não era feito, e dos jovens que nunca haviam participado do Kiki. A construção das casas na mata para receber os rezadores, a chegada dos pajés, a escolha da araucária, cujo tronco serviu de cocho para a bebida, as orações, a preparação da bebida que levou mais de dez dias para ficar pronta, a pintura das marcas nos rostos dos kaingang, definindo as duas metades: kamé e kainru-kré. O filme mostra, também, como a língua kaingang ainda hoje representa um importante signo dessa cultura, demonstrando que os indígenas mantém sua identidade apesar da violência do contato com outras etnias.
Mbyá Reko Pyguá, a luz das palavras (2012)
Direção de Kátia Klock e Cinthia Creatini da Rocha
Produzido com recursos do Prêmio Catarinense de Cinema (FCC/Governo SC)
Sinopse: A sensibilidade do povo Guarani em educar as crianças permanece viva apesar das influências urbanas. Mas esforços dos professores indígenas são marcados por dilemas, buscas, encontros e desencontros. Este registro todo gravado em Guarani na Aldeia Yynn Moroti Wherá, em Biguaçu (SC), comprova: espiritualidade, simplicidade e verdade traduzem a luz dos Guarani no seu processo de educação.
Celibato no Campo (2011)
Direção de Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt
Produzido com recursos públicos oriundos do Prêmio Edital Catarinense de Cinema (FCC/Governo SC)
Sinopse: A intensa migração de jovens filhos de agricultores para as cidades, sobretudo de jovens mulheres, que saem para estudar e dificilmente retornam às propriedades rurais, faz surgir um novo fenômeno social: o celibato masculino no campo. O documentário aborda as razões do aparecimento deste fenômeno que se configura como a masculinização do campo e que tem como conseqüência a diminuição do número de casamentos e o envelhecimento no meio rural.
Larfiagem (2017)
Direção de Gabi Bresola
Produzido com recursos públicos oriundos do Edital Prêmio Catarinense de Cinema (FCC/ Governo SC)
Sinopse: Nos arredores da estação ferroviária de Herval d’Oeste, em Santa Catarina, na década de 1950, um grupo de engraxates e carregadores de malas, entre 7 e 15 anos de idade, concebeu uma língua própria (socioleto), denominada Grinfia. Na década de 2010, a Grinfia ou Hervalês como é conhecido na cidade, está viva na lárfia (conversa) dos seus últimos falantes, agora septuagenários, que ainda conhecem e decifram os segredos de seus substantivos e pronomes.
O Salame vai à feira (2020)
Direção de Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt
Produzido com recursos oriundos do Edital de Fomento e Circulação das Linguagens Artísticas de Chapecó
Sinopse: O salame colonial, produzido pelos agricultores sem conservantes e aditivos químicos, não vai à feira. A produção do salame, um atributo de descendentes de italianos do interior do sul do Brasil, é um saber fazer restrito aos encontros familiares. Neste filme, o alimento que sai da casa do agricultor vai para as mãos do chefe de cozinha e chega à mesa para uma partilha regada a afeto e memória.
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