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Jovens e adultos substituem família por aplicativos na internet

Aumento de usuários reforça necessidade de vínculos afetivos entre pais e filhos
Por: Felipe Giachini
30/09/2016 17:22
Mãe e filho prezam pelo contato físico, mas aprovam incremento da internet em casa (Foto: Felipe Giachini/LÊ) Mãe e filho prezam pelo contato físico, mas aprovam incremento da internet em casa (Foto: Felipe Giachini/LÊ)

“Mãe, o que teremos para o almoço?”. Expressão comum em boa parte dos lares brasileiros acompanha a família há muitas gerações. A simples frase esconde o sentimento de carinho e respeito à figura da mulher, que, muitas vezes, está à frente nas decisões da casa. Assim como a expressão “Pai, que horas chegará em casa?”, que demonstra a espera dos filhos em contar com a segurança que a parte masculina de muitas famílias proporciona. Momentos únicos do contato direto entre os familiares, do fortalecimento dos vínculos, da emoção em poder contar com alguém próximo nas situações boas e ruins do cotidiano são fundamentais para que o relacionamento das pessoas seja cada vez mais intenso. Porém, com a inserção das novas maneiras de se comunicar, sobretudo pelas redes sociais, diálogos corriqueiros que simbolizam essa cumplicidade estão sendo substituídos por telas, caracteres e áudios de aplicativos em aparelhos eletrônicos.

O número de usuários de dispositivos móveis, como celulares, smartphones e tablets cresceu a partir de 2010. O aparelho, que antes servia apenas para fazer ligações, conta hoje com muitas outras funções. É também câmera fotográfica, câmera de vídeo, gravador de som, GPS, possui acesso à internet, rádio e até televisão, entre tantas outras ferramentas. O estudo “Our Mobile Plante”, que analisou o uso de aparelhos móveis em vários países, apontou que 14% dos brasileiros se encaixam nesse grupo, ou seja, cerca de 27 milhões de pessoas, um em cada sete brasileiros, tem um smartphone. Esse é o caso de dona Maria de Lima, de 50 anos, que é moradora de Xaxim e há um ano comprou um equipamento e criou uma conta no Facebook. “Converso com meus familiares que moram longe, vejo o que meus amigos postam, busco saber o que está acontecendo em nossa cidade e País e gosto de jogos para passar o tempo. Percebo a facilidade em me comunicar com outras pessoas, mas também vejo que isso também pode atrapalhar as pessoas que estão próximas a nós”.

A aposentada destaca que, nos encontros em família, sempre há alguém mexendo no celular e não prestando atenção no assunto em debate no grupo, o que a incomoda. O fato de as pessoas ficarem “desligadas” do momento em conjunto é negativo para Maria, pois ela nota a diferença no comportamento dos integrantes da família comparado a antes dessas tecnologias estarem empregadas fortemente no dia a dia. “Antigamente o contato entre todos era bem melhor, conversávamos bastante e percebo que essa mudança de comportamento em muitas famílias atrapalha as relações, principalmente dos jovens com os mais velhos. Hoje não temos mais aquele diálogo e entendimento de pais e filhos. Fico triste quando estamos conversando e alguém se dispersa do assunto para mexer no celular. E, inclusive, costumo chamar a atenção, pois acredito na importância de valorizar os momentos em família”, destaca.

A relação entre as gerações tende a ficar ainda mais em debate, pois as diferenças no contato entre os jovens com os pais ou avós são bastante confrontadas, como explica a psicóloga xaxinense Giovana Sorgato. “Os jovens já nasceram na era digital, diferente dessa outra geração, que reconhece a importância do olho no olho”. Conforme Giovana, limites podem ser impostos nos momentos de reunião para que as conversas sejam contempladas por todos os integrantes, mas, ainda segundo a psicóloga, não há como barrar esses hábitos que fogem da rotina da família mais antiga. “Todos têm de se adaptar às tecnologias, pois elas estão evoluindo e continuarão. Não há como desviar delas. O que se pode fazer é combinar com os jovens para que não usem os aparelhos em alguns momentos, para priorizar e manter os vínculos afetivos. O diálogo é sempre a melhor opção”, afirma.

QUANDO A DIVERSÃO VIRA VÍCIO

O filho de dona Maria, Rogério Lima, tem 18 anos e não esconde o hábito frequente de utilizar as redes sociais. “Não consigo ficar um dia sem acessar o Facebook e o WhatsApp. Acredito que já se tornaram vícios. Às vezes, quando estou com algumas pessoas, percebo que estou mexendo no celular e não presto atenção no que foi dito. Reconheço o quão negativo isso pode ser, pois sei que não é saudável viver no espaço virtual o tempo todo. Busco evitar ficar conectado junto a outras pessoas, mas quando me dou conta estou com as mãos no teclado do aparelho.”

A busca pela satisfação momentânea do mundo virtual preocupa profissionais da Saúde, que consideram o uso abusivo das redes sociais como doença e, inclusive, há clínicas em São Paulo especializadas nessa “desintoxicação” da tecnologia. “É um vício tanto quanto bebidas, drogas ou jogos. Além disso, a internet acentua o isolamento social, as depressões e os pais são os que mais sofrem para trazer os filhos à realidade. Ninguém pode ficar conectado 24 horas por dia, as pessoas precisam viver o mundo real, pois a vida e feita de relações afetivas reais”, expõe a psicóloga.

Giovana salienta também a importância dada pelos jovens ao status que a internet oferece, principalmente em relação às curtidas e seguidores nas redes sociais. “O adolescente vive na fase de autoafirmação, de encontrar a sua personalidade. Eles acham que para estarem inseridos em grupos precisam ter curtidas e seguidores, e isso não é bom. Quando não são ‘populares’ o impacto atinge diretamente na autoestima, levando muitos jovens à depressão”. Segundo ela, a partir do momento em que o sofrimento e as angústias são causados pelo uso das tecnologias há de se questionar sobre a real proposta dos novos meios. “O ser humano não foi criado para viver sozinho. Temos de viver com dignidade, tranquilidade, receber e dar carinho à família, manter um equilíbrio entre o virtual e a realidade e não se isolar”.


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